Um dia tudo muda,
os bastidores revelam o lado real:
o fantástico se torna banal,
os valores se desgastam
e os que restam,
agarram-se no ar.
A ciranda perde o encanto
não canta,
não anda,
não quer mais girar.
jul 10 2021
Mudanças!
jul 10 2021
Livre!
Solto as rédeas.
Deixo o pensamento
comandar o momento.
O importante é me entregar,
decolar desse porto sem cais,
abandonar o navio,
o vazio,
caóticas e insolúveis situações.
Ir onde ele bem me levar
sem temer o que virá,
o que verei,
o que será.
Sortear direções,
represar previsões
que erram à todo instante
incorrendo em tempestades
as imprevisões diárias.
Por ora,
viajo com meu pensamento
liberando endorfina,
combustível para meu pensar,
oxigênio para meus neurônios,
sem saber onde vai dar:
circundando a rosa dos ventos
tatuada no tempo,
em sonhos e irrealizações.
Disperso poemas,
sentimentos guardados,
chorados,
calados,
inerentes aos temas
que já não estão sobre as mesas.
Um pouco acima do chão
deixo um vão
– entre o abstrato e o concreto.
Talvez uma passagem
para algum amor secreto,
um decreto publicado em poesia
em pleno trajeto.
Voo com meu pensamento
até onde possa voar.
Com ele tenho alento,
paciência para me adaptar.
E volto resiliência,
apta a continuar.
jul 10 2021
Aos Enamorados!
Hoje rimas reclamam versos:
bailam pelo ar
dissimulando os queixumes.
Flores realçam cores e perfumes
e se revestem das belezas do universo.
Hoje, as dores pausam,
secam o seu pranto,
esquecem suas causas,
silenciam ante a canção
anunciando festa
e festejam a vida que se manifesta.
Hoje, o amor exerce seu poder
e com força tamanha
se faz prevalecer,
surpreende o desencanto,
sublima o inesperado,
enchendo de encantos
os corações apaixonados.
jul 10 2021
Insana!
E ela renasce a cada fase da lua:
rouba-lhe o brilho
e lhe ofusca o luar,
percorre as estrelas seu insano olhar
e penetra o negro véu,
indo além do céu.
De seus lábios
um balbucio visceral
profetiza um tempo que jamais haverá igual.
De repente,
dança em estranho ritual
e a cada passo avança,
imaginando-se normal,
tomando para si cada pedaço do espaço
sem se importar com a plateia atônita,
que, aos poucos, se esvai,
se descompassa pelos cantos
a amaldiçoar a figura lacônica.
Gira em torno de si toda sensação
como em movimento de rotação.
Pensa em trazer os dias e as noites,
transladando cada estação.
Sinistra,
caminha com a lua
que some no céu
e ela na rua,
e, como miragem,
perde-se a imagem.
Deixa o cenário de ilusões e desenganos:
leva consigo a magia e o encanto.
jul 10 2021
Despedida!
Tempo de ir se despedindo da vida,
aos poucos,
sem pressa nem letargia,
gerúndio a divagar em qualquer tempo
colhendo a safra mais esperada,
saboreando o fruto doce e oriundo
de muitos outonos belos e profundos
lacrados na memória,
na história
perpetuada de essências vibratórias,
construída à duras penas
ou em situações amenas,
em que suor e brisa compõem o aprendizado
em um morde e assopra,
ri e chora,
sonho que vai e vem
em um campo que aflora e deflora.
Tempo de diminuir a marcha,
apreciar cada detalhe que passa
pela visão de quem olha e vê,
sente e pressente
o vaivém do tempo que só vai,
não vem.
Tempo de respirar aliviada pelo que fez,
ou lamentar o que não pôde
e se desfez.
Caminhar devagar em uma entrega absoluta,
sem luta,
em um passeio que se permitiu ganhar,
na malemolência,
quebrando o ritmo do dia,
o compasso dominado pelas horas
onde cada minuto é um tempo a cumprir,
onde é punido o segundo que escapulir.
A canção,
trilha sonora,
toca suavemente lá fora
a melodia que irradia
relatos de sua história.
jul 10 2021
Caminhos!
Piso caminhos intransitáveis,
em chãos impalpáveis
entre paisagens jamais tocadas
ou maculadas pela vil exploração,
domínio de reles conquistas,
vítimas de cruel exacerbação.
Onde ninguém se atreveu
sem pesar o que perdeu,
ou se perdeu.
Abraço o desafio da entrega,
desbravo a terra,
saúdo o alvorecer,
bendigo as flores,
os amores,
o entardecer,
os espinhos a sangrar lições.
Sigo a canção nascida do acaso,
a luz que clareia,
da imaginação.
O que minh’alma carrega
é o que rega o estio que aterra,
oração para que a chuva ague
o mar ressequido da aflição,
e as viravoltas de girassóis dourados,
nos canteiros e jardins de adoração.
Quero mais lágrimas nos olhos,
chorar o estio até a sede acabar.
Percorro estradas de folhas desabadas
e outras verde-limão,
pedras amontoadas,
tapetes de algodão,
belezas a se perder com toda a razão de ser.
Levo a vontade de ir,
sem partir,
sem adeus
ou despedida,
do jeito que o sonho pedir.
jul 10 2021
Tempos Conturbados!
Nesse tempo de rapidez tamanha,
de não mais saber onde mora o longe,
da tecnologia que nosso ar respira
e o pensar expira,
pois a tudo ela responde.
Da compulsão de olhar para uma tela fria
causando estragos,
mentes doentias,
largando um mundo inteiro para lá,
juntando distâncias que se percorria
com a emoção de se querer chegar,
de se encontrar,
trocar carinhos,
sentindo o toque real de tal magia.
Perco-me em pensamentos
em um vaivém de dias desencontrados.
O ano quase se foi,
os meses não querem ficar,
os dias apressados
estão todos agendados.
O amanhã já é ontem,
o ontem virou saudade,
o hoje está cansado,
chegou bem atrasado.
Despeço-me dos ricos detalhes.
Merecem pausa para os apreciar.
Despeço-me da fantasia,
o tempo é curto pra se divagar.
A noite vem chegando,
o dia vai raiar:
não dá mais para sonhar.
jul 10 2021
Manhã!
Amanhece.
Entrego-me aos braços da manhã
confiante na luz a me banhar clarão.
Aninho-me em seu colo.
Decolo.
Alma desprendida alcança o céu
e o traz para dentro de mim,
o faz fazer parte de mim,
liturgia ungida de sacramentos.
Portas abertas,
meu corpo é templo
a contemplar a letargia do momento sacro,
na fé que em meu corpo guardo,
ainda que todas as mazelas do tempo
destoem a oração do dia,
a homilia,
surdas aos cânticos melodiosos da manhã,
a brisa que sopra a ternura do amor,
manto divino
onde abrigo meu interior.
Regressa.
Com suavidade,
sem pressa.
Sua luz não escurece.
Perpetua-se em cada coração.
Resplandece em cada oração,
na esperança que o dia oferece
e na manhã que nasce feito prece.
jul 10 2021
Madrugada!
Sou mais a madrugada arredia,
que não é noite nem é dia.
É orvalho e alvorada,
oração intercalada
no silêncio que prenuncia
o novo que virá.
Sou a madrugada interposta,
mediando o morrer da lua
e o nascer do sol
a deixar no ar um ar de o que será?
O abandono,
onde todos vestem sonhos
na espera do novo que virá.
Sou a madrugada sem atalhos
onde livres brincam os pensamentos
e a magia tece em colcha de retalhos
palavras colhidas do momento
em versos que se trombam,
emoções que se encontram,
ritual da paz.
É manhã que chega.
Madrugada que jaz.
jul 10 2021
Contraversões!
Em qual versão me perdi?
Foram tantas que vivi,
expostas e inconvincentes.
Talvez em todas ou nenhuma.
Ou, quem sabe,
na tradução que imaginara
ser tal qual o meu perfil.
Porém, ele se modificara
de acordo com os traslados dos dias
a interferirem na alma,
seguindo a revolução decorrente dos fatos
que lacram,
decepam,
descartam,
buscando entre boatos e mentiras
uma verdade sincera,
a qual me propusera,
julgando ser o caminho ideal.
Quimeras.
Foram tantas as versões!
Verdades se multiplicaram,
confundiram minhas (re)ações.
Insensatez.
Volto ao ponto inicial
e recomeço outra vez.