Vieste!

Eu pedi que você viesse
e trouxesse-me em seus olhos.
Sem palavras exatas,
entre os versos
e indecisões do crepúsculo,
você veio.
Trouxe- me o céu:
o seu.
Trouxe-me suas estrelas.
O firmamento inteiro
no jeito particular de definir- me,
na forma mágica de decifrar-me,
sem chegar à pele.
Eu pedi que você viesse
e trouxesse-me em seus olhos:
sem ruídos imprevistos,
entre pausas
e consentimentos das madrugadas.
Você veio.
Trouxe-me o mar:
o seu.
Trouxe-me suas marés de poesia
no jeito particular de denudar-me,
na forma mágica de descobrir-me
sem ferir a alma.
Você veio
e trouxe-me o sal do sentir.

Manhã!

“Desenha uma manhã,
ainda que imperfeita,
mas onde nos caiba
e, em ti, eu esteja!”
(M. L.)

Eu?

Eu?
Incógnita de mim.
Insolúvel teorema.
Solução e problema.
Simplicidade.
Complexidade.
Imperfeição!
Eclipse solar.
Lunar.
Total, parcial.
Penumbra!
A busca da claridade.
Não e sim.
Começo,
meio(aturdida)
e fim.
Ilha perdida.
Arquipélago da vida.
Barco à vela.
À deriva.
Onde ancorar?
Brilho do sol.
Arrebol.
Crepúsculo e cores.
Primavera.
Beija- flores.
Borboleta que sonda.
Flor que não encontra.
Eu: nó, nós.
Coluna.
Coliseu.
Amor.
Cotovia de quem descreveu.
Canto.
Dor.
Pranto.
Riso.
Acalanto.
Pergunto-me:
Onde me acho?
Em qual plano?
Oceano?
Riacho?
Ou me engano?

Saudade Imensa

Recomeço!

(…)

Recomeço do agora
sem pressa,
sem hora,
vazia do ontem,
esquecida do outrora,
fechada às lembranças,
lacradas,
fincadas
no cerne baldio
do meu coração.

(…)

Fragmentos!

(…)

De repente,
a madrugada
anuncia a alvorada:
branca,
esquálida,
pálida.
Um outdoor na calçada
clareia minha inspiração.
Vejo a noite virar dia,
a lua virar sol,
melodia ser canção,
sinfonia,
arrebol
e os versos captados
de onde se pôde chegar
compõem o poema-magia:
sonhos que ainda irei sonhar.

Preciso de Tempo!

Preciso do tempo!
Devagar,
a contento,
levando-me a passo lento por cantos que nunca vi.
Que venha de encontro
ao vento e em um alento,
comigo se deixar levar:
permitir-se atrasar,
extrapolar limites,
parar os pêndulos,
calar as horas,
deixar-me passar.
Tempo bendito,
preciso,
ainda que em mar revolto,
dar-me a mão para atravessar,
atracar em qualquer porto,
acenar ao que se vai,
e a quem queira,
abraçar.
Barco torto,
sem pressa de chegar ao fim.
Em cada cais
vivermos um pouco mais,
sem o temor do calendário,
surdo a regras e sermões,
unindo-se a mim.
Cavalheiro lendário
que ousou seu senhor dissuadir,
espera um pouco mais:
quero dar vida ao imaginário,
imagens ao que compor,
cobrar o que não vivi,
devolver o que vi demais
e, após vivermos tantas marés,
cumprir seu destino,
pé ante pé,
sem acelerar as horas.
Deixe que se vão embora,
siga no controle dos dias
conduzindo à revelia
minutos cronometrados
apressados e resolutos.
Faça cada minuto durar
cada vez mais.

Fragmentos!

(…)

Caminhei lugares intransitáveis.
Ultrapassei limites
além do que o sonho permite.
Transpassei minhas finitudes,
minhas altitudes e latitudes,
estes chegares da ciência
e do avanço,
que avançam mais do que
posso e alcanço.
Nada encontrei
além das longitudes
que desbravei.
Perguntas com respostas
não contundentes.
Respostas evasivas,
não convincentes.
Ou nada de respostas!
Evasivas,
somente!
Só mentem.

(…)

Fragmento!

(…)

Faz um flashback,
recolhe do passado
os retalhos amassados,
cerzidos em sentimentos sagrados,
os seus momentos válidos
e na somatória com os de agora
recomece sua história:
junte suas asas
às do pensamento
e voe,
perdendo-se pelo arrebol.
Veja de perto o pôr do sol
e o nascer de um novo dia.

(…)

Prece!

Aquieta meu coração, Senhor!
Com rebeldia,
ele me impõe ritmos,
acelera os batimentos,
expande-se e se contrai
à minha revelia.
Sinto-o atrapalhando
meus passos,
invadindo meus sonhos,
entorpecendo meus músculos.
Nas horas de maior silêncio
ele grita,
indiferente aos meus apelos:
cobra-me atitudes,
impõe sua vontade e desejos.
Assustada,
peço-lhe que se cale.
Ele ri de mim,
dos meus medos inúteis,
dos meus segredos antigos.
Meu coração tiraniza meus dias.
Faz-me exigências
e me indaga,
até quando eu o manterei prisioneiro.
Nos fins de tarde,
cansado de lutar comigo,
ele se entristece
e, com uma voz doce,
quase inaudível,
suplica que eu o liberte.

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