Desnudar a alma
é mostrar-se por inteira
dissolvendo mistérios
esquecendo a sensatez
mesmo que pareça insano
e assim recuperar a lucidez.
dez 05 2018
Nudez
dez 05 2018
Vento
Veio na varanda
um vento no rosto:
quase velho
quase novo.
Nesta noite
quase primavera
de um quase
inverno ameno
quase frio
quase sereno.
Veio na varanda
um vento
que trouxe
seu quase cheiro:
ambrosia
quase agridoce
quase droga
que me entorpece
me agita
e me sufoca.
dez 05 2018
Vida
Vivo como se amanhã
fosse o dia da partida.
Partida não de mim,
mas das coisas sem raízes,
fugidias,
de chegadas e partidas,
de encontros, despedidas,
de dores e alegrias,
de saudades desmedidas.
Faço de mim uma grande via,
uma via larga de idas e vidas.
dez 05 2018
Divagações
Pensamentos distantes,
momentos de introspecção,
olhos fitos.
Pingos de orvalho caem
e deslizam suavemente pela relva.
Com a delicadeza dos ventos,
folhas caem
desnudando as árvores,
como se deixassem à mostra
uma alma nua sedenta de vida.
Meu olhar acompanha
o voo do pássaro,
como bailarino
a dançar entre as nuvens.
Embriago-me com a beleza
que se forma diante de mim.
Borboletas esvoaçam,
flores cantam,
arco-íris de mágicas cores,
imagem sobrenatural, arte divina.
Meus sentidos se voltam para a emoção,
acariciam meus delírios e meus sonhos,
fazendo nascer em meu coração
o imenso desejo de amar
e na minha alma
a mais perfeita inspiração.
dez 05 2018
Versos Alados
Quero palavras despidas
e versos ao natural.
Rimas não são exigidas,
mas, se rimar, não faz mal.
Quero a essência da poesia,
não importa que seja dolorida,
expressando agonia ou alegria,
arte que não me deixa oprimida.
E, na essência das palavras,
quero liberdade e precisão,
e que meus versos criem asas
fazendo do poema imensidão.
Versos alados rumo ao infinito.
Criá-los me deixa repleta:
é um relicário o meu manuscrito,
traduz minha alma irrequieta.
E, numa constante procura,
solto meus versos alados
onde as palavras, uma a uma,
buscam outros significados
que não estão no dicionário.
Por onde volitam
mesmo no mundo imaginário.
Nossas quimeras,
os versos realizam.
dez 05 2018
À Flor da Pele
Há por baixo da minha pele
tantos caminhos insuspeitos,
tatuagens sob a epiderme
que traduzem meus desejos.
Há na minha pele atalhos
que nunca foram explorados.
Nua, me exponho ao orvalho.
Por que nunca os macularam?
Por baixo da minha pele
há um jardim permitido,
um desejo que me impele
e me inunda de fluidos.
Há na minha pele fertilidade,
uma ânsia de ser tocada:
mãos hábeis trariam saciedade,
e a flor do amor seria brotada.
Por baixo da minha pele, há arrepios:
uma sede que água nenhuma sacia
que deságua em intensos rios
e molha os versos da minha poesia.
Há, na minha pele, um mar revolto
e uma ânsia de mergulhos viscerais.
Traduzo em versos tempestuosos
os meus desejos carnais.
dez 05 2018
Rabiscos
Posso jogar luzes ao vento
e ver o mundo se colorir.
Rabiscar meus sentimentos
e ver um novo pensamento surgir.
Quebrar barreiras virtuais
e ir ao firmamento.
Esquecer-me de medos reais,
libertar-me em sentimentos,
sentir meu corpo quente
em noites tão geladas
e deixar os dedos dormentes
escrevendo por toda a madrugada.
Derramar-me sobre papéis,
e fazer das letras asas em meus pés.
No mundo da fantasia,
entre meus versos e rimas
fiz da poesia o meu único bem.
dez 05 2018
Coração
O coração guarda emoções
que os olhos não escutam,
que a boca emudece,
que os ouvidos calam.
O coração perdoa
o que os olhos não veem.
Escondem na boca
a angústia das palavras.
O coração perdoa
o que os ouvidos sentem
no sussurrar das palavras.
O coração se expressa
quando o amor nasce.
O coração se alegra
e se expande
quando os olhos sorriem.
O coração vai à boca
quando a saudade aperta.
O coração sangra
quando a esperança
desaparece.
O coração da gente
é misto de amor.
É alegria,
é vento que canta
e dia que nasce.
O coração é um jardim
onde brota a amizade.
Nele plantamos sentimentos
que só ele conhece.
É tempo
ou um templo complexo
de emoções constantes,
diversas.
O coração lê o que vai
na alma do tempo.
Quem dera fosse possível
desvendar seus segredos,
percorrer seus caminhos,
filtrar seus vasos,
plantar sementes
e deixar sorrisos nas retinas
claras do amor,
no tempo templo
de todo o seu ser.
dez 05 2018
Nostalgia
O silêncio
o farfalhar das folhas
o perfume das flores
que desabrocham
no pulsar do vento
é melodia a embalar palavras
na nostalgia assombreada da tarde.
dez 05 2018
Versos Nômades
De onde vêm os versos?
Da mente conturbada,
do coração inquieto,
borbulhante,
da emoção alada
ou petrificante.
Do inconsciente iceberg
fincado em solo pedregoso,
irremovível,
viscoso.
Os versos vêm
do olhar atento,
dos pensamentos repentinos,
descuidados
ou programados.
Do tédio,
do tormento,
do silêncio contido
ou do frenético lamento.
Do riso desarvorado,
do amor alucinado.
Os versos vêm como ondas do mar.
Ora avançam, ora recuam.
Mas não cessam de ancorar
nas areias firmes da mente
onde acabam por soçobrar.