Traços!

Traços abstratos,
esboços tímidos,
lampejos de insegurança,
linhas paradoxais
confluentes num só ponto.
A intersecção da alma,
forma empírica/erudita,
detalhe fosco à carvão,
tela sobre o cavalete.
O trem passa e ela fica:
lacuna de obra inacabada
à espera de imaginação.

Palavras!

Palavras soltas:
letras que caem,
verbos que versejam,
poesias que poetizam.
Palavras soltas
caem no papel,
versejando ideias,
poetizando dilemas,
desvelando sentimentos,
desnudando segredos,
profetizando a poesia.

Pranto!

Pranto
impermanente,
inscrito na pele
o tempo luz,
timbre de outros mares
canta a voz das fontes
e por vezes chora.
Se as fontes cantam
com voz de pranto
por que choram teus olhos?

Sou!

Eu
sou feita de fases
de todas as faces
criadas por mim.
Sou feita de erros,
acertos,
de certezas,
incertezas.
De segredos
e medos.
Sou feita de sonhos,
ilusões,
de esperança,
desesperança.
De risos e lágrimas.
Às vezes, cubro a nudez com lucidez,
às vezes, escancaro de vez.
Insensatez?
Não sei.
Sigo no tempo que encanta,
desencanta,
falece
sem súplicas,
sem preces.

Liberdade!

Mostrei o que sou.
O que realmente modula em mim;
fui contra as marés,
emergi de um abismo sem fim.
Cruzei linhas paralelas,
corri na contramão do vento, do tempo 
e me alcancei na última estação.

Rasguei minha carne, expus meu avesso,
o meu contexto
e toda a sensibilidade verbal, emocional,
escondida em contra senso,
sufocando o bem, endeusando o mal.

Postei nua minha identidade
e toda a verdade antissocial
chocando a realidade dura.
Regorgirtei iniquidades cruas
ingeridas por razão irracional
sob forte pressão radical.

Viajo sem malas.
Sem revolta ou bilhete de volta.
Sinto-me leve, nada que me pese,
sem as alças das parafernálias
que pendurei num tempo que já teve fim.

Sigo só: melhor assim.
Insana, estranha, profana
é o que pensam e podem pensar de mim.

Capítulo ao Vento!

Há um morro a desbravar
mil tropeços no caminho
um livro que vai ao meio
e todo um céu que adivinho.

Não há mal que me demova
atalho ou encruzilhada,
meus passos voam nos céus,
respondem à voz de Deus,
chegam ao cimo da escada.

Já prefaciei os sonhos.
Dei-lhes asas de condor,
capítulos feitos de vento,
um mundo de sentimentos
e palavras cheias de amor.

Verso Mudo!

Nas saliências dos segredos
ouvem-se os brados longínquos
das vozes passadas
que nos restam na memória
e nos marcam o espírito.
Profusas palavras
ecoam pelos sentidos
vazando a razão,
preenchendo o sonho,
e, num verso ausente,
entregamo-nos unos,
inquietos, perfeitos.
Silenciamos o compasso
do coração perene,
e nada nos resta,
para além da vida e do amor.

Poesia!

Poesia é um encantamento:
fala de amor mesmo que em lamento.
No silencio ou na melodia,
com o coração aberto ou rasgado
e mesmo com o peito apertado
o poeta perfuma os versos de amor.
Em ondas de vento,
pincela flores silvestres.
O poeta sonha, delira,
chora de amor e de dor.
Toca a lua, beija estrelas,
bebe do orvalho.
As palavras dançam segregando sonhos,
acalentando a alma
dos amantes da poesia.

Porto!

Fica muito longe o porto onde me ancorei,
distante dos mares turbulentos e frios
um porto fincado no meu silêncio 
e nas vontades guardadas.
Sim, já não se quer tanto como antes.
As lágrimas lavaram a areia dos olhos:
um cansaço do tempo.
Ainda bate um coração escasso de sonhos,
de dores que não dilaceram como antes,
hoje pulsa mais manso.
Minhas Lembranças são passarinhos ingênuos 
fazendo ninhos na tempestade.
E nos oceanos das minhas paixões,
uma maré de águas silenciosas
indiferente ao barco que carrega
viaja dentro de mim 
chegando onde preciso
e ancora nesse porto onde fiz morada.
Num mar mais tranquilo, 
numa ilha esquecida,
num porto qualquer.

Resenha

Poemo um amor,
um sonho a dois
imaginado
agora, experimentado.
Desenho versos represados,
em nós libertados,
vivenciados.
Despetalados
nos beijos roubados,
selados,
antes sufocados.
Poema de espera,
versos vividos,
intensos,
divididos,
meus e teus
ficarão guardados.
Guardarei as canções
ouvidas ao léu.
Tão nossas
as rimas de amor,
melodia que compomos
nos dias meus e teus.
Espalhei no tempo,
diluí.
Assim, tento não sentir
a dor de não perpetuar
as resenhas que fiz,
vivi
e senti partir.

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