Partitura!

Afino os sentimentos,
orquestro as palavras.
No silêncio,
busco a melodia mais pura,
quando minha alma se partitura
toco a poesia
versejada de candura.

Luta!

Perto dos sonhos os pesadelos são mais fortes.
Perto dos fortes os fracos são mais unidos.
Antes da ferida vem o corte.
Para achar-se é preciso estar perdido.
O corte, o sangue, a morte.
O bálsamo, a cura, a vida.
Da vontade ao sonho.
Do sonho ao plano.
Do plano ao ato.
Do ato ao fato.
E o fato?
Engano ou sorte?
Ferida ou morte?
Cura ou corte?
De fato,
o que nos mantém vivos
é a capacidade de recomeçar,
sonhar outra vez,
sangrar e curar
após cada engano,
cada anoitecer.
Apesar da insensatez
ressuscitar.
Vence quem cala
porque o silêncio é bala
não calma.
O silêncio é o barulho da alma.
Ave-santa
Graça!
Não há verso que se faça,
poesia que se cria,
arte que nasça
sem esse grito de dentro,
ecoado e atento
buscando a luz.
Não há poesia feita antes, nem depois.
Poesia é agora, instante.
Não escrevo aos outros,
mas pelos outros.
Através deles
versos se criam no ninho da observação.
Silêncio, mansidão.
Do que há em mim, mas oculta-se
do que sobra.
Se não escrevo aos outros,
escrevo dos outros o que me falta,
o que me salta.
Meu verso é isto: ou é falta ou é sobra.
meramente intenção.

Realidade!

Realidade

Vaidades ocultas
orientando virtudes.
Máscaras de luz
corrompendo atitudes.
Egoísmo presente,
desencadeando a dor,
destruindo nascentes
que brotam amor.
Arraigadas verdades
Impedindo o saber,
confundindo os caminhos
dos que querem aprender.
Vontade incontida
de soltar o espírito,
das mentiras que inibem
o inevitável crescer.
Dar velas aos sonhos,
descortinando a visão.
desfazendo os nós
das amarras ao chão.
Sair da deriva
da falta de ventos,
da vida passiva
sem questionamentos.
Buscar outros rumos
mais cheios de norte.
Navegar os sentidos
na certeza da sorte.

Incubus!

Despiu-se da escuridão
com o corpo reluzente,
pálido à luz das estrelas
como pérolas transluzentes.
Mãos frias se erguiam
sobre o corpo imóvel.
Artérias latejantes
pulsando sangue flamejante.
Olhos lacrimejavam.
A pele rígida
garras arranhavam.
Ó, majestoso és tu!
De pele pálida
incubus.

Nada!

Ilusões perdidas,
sonhos impossíveis,
realidade distante,
sonhos constantes.
Horizonte
tão longe e perdido,
nada definido,
já quase esquecido.
A vida é tão pequena,
o tempo tão curto
e os sonhos tão grandes.

Grito!

Há um silêncio
grávido de palavras
que anseiam nascer.
Há palavras sendo abortadas
antes mesmo do amanhecer.
Há risos presos
em nós na garganta
feitos de lágrimas
que insistem em escorrer
pelo peso do silêncio.
Há gritos desesperados
ansiando amanhecer.

Destino!

É a vida que se fissura nas mãos
entrelaçadas no tempo
e as nuvens que se desdobram,
são crepúsculos perdidos.
É o mundo rodopiando
na instabilidade dos polos,
no eu que geme
a perda de ser vida.
São os dedos calejados
Agasalhando as palavras,
são versos perdidos
nas entrelinhas dos vocábulos.
São as louquices dementes
com que se sorvem venenos terrenos
e os atos crentes dos descrentes
jazem, dissimulados.
É a vida, a humanidade, a morte
no amor transformado de gente.
É o ato de renascer
parindo-se no choro bravio do parto.
É o ciclo que recomeça:
o teu e o meu,
nas páginas do destino.

Traços!

Traços abstratos,
esboços tímidos,
lampejos de insegurança,
linhas paradoxais
confluentes num só ponto.
A intersecção da alma,
forma empírica/erudita,
detalhe fosco à carvão,
tela sobre o cavalete.
O trem passa e ela fica:
lacuna de obra inacabada
à espera de imaginação.

Palavras!

Palavras soltas:
letras que caem,
verbos que versejam,
poesias que poetizam.
Palavras soltas
caem no papel,
versejando ideias,
poetizando dilemas,
desvelando sentimentos,
desnudando segredos,
profetizando a poesia.

Pranto!

Pranto
impermanente,
inscrito na pele
o tempo luz,
timbre de outros mares
canta a voz das fontes
e por vezes chora.
Se as fontes cantam
com voz de pranto
por que choram teus olhos?

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