Na ponta do lápis
um mundo se abre:
formas, cores, palavras.
Sentires, melodias.
Na ponta do teclado
a existência se descortina:
mosaicos de vivências,
espelhos da humanidade.
Na expressão da arte
tudo é possível:
mesmo no mais improvável
o coração explode.
jun 19 2020
Sentires!
jun 19 2020
Dualiades!
Prefiro a dor do absurdo
a esse mundo apático
corrompido, sem sentido.
Prefiro a morte em silêncio
a palavras esdrúxulas
e aparências vazias.
Prefiro ossos rompidos
a ideias mesquinhas
e condutas banais.
Prefiro a poesia abismal
a versos felizes
ocultando todo mal.
jun 16 2020
Subliminar!
Tons de voz,
Silêncios, gestos,
zombarias.
O não dito entre o dito:
inércia.
Arquétipos do inconsciente,
sinais contínuos
de emoções reprimidas.
No silêncio e nas palavras
a mensagem grita.
jun 16 2020
Grito!
No diafragma aberto
o (des)concerto do ar:
uma música
que foi deixada
sem letra,
sem rumo
suplicando melodia.
jun 16 2020
Novo Mundo!
Enfim, um mundo novo:
sem pecados originais
e crueldades habituais.
Enfim, terra para todos:
natureza em harmonia
e humanos em sintonia.
Enfim, vida em plenitude:
beleza primordial
e amor incondicional.
Enfim, não mais utopia:
renascimento das almas
compartilhando a alegria.
maio 25 2020
Poesia!
Trago suspensa nos lábios
a palavra poesia.
Trago, na ponta dos dedos,
todos os versos por escrever.
Nos olhos, trago estrofes,
métricas, rimas e tercetos.
Tantas quadras de ilusão
que na forma nunca rimam,
mas que enquadram um sentir
vasto e profundo,
cheio de percalços no caminho,
à beira de um abismo.
Existo para sofrer em minha
própria dor.
Destruo-me e renasço
a cada instante,
para em seguida,
voltar a morrer e depois a renascer.
Sou assim em cada verso,
porque trago suspensa, nos lábios,
a palavra poesia
e na ponta dos dedos
todos os versos por escrever.
maio 25 2020
Métrica!
Acerta a tua voz
pelo rigor da ternura
acerta o coração
pela violência do grito
acerta o teu olhar
pelas lágrimas da vida
e não
pelo discurso,
pelo relógio,
pelo apito
que, milimetricamente,
marca a hora certa
da entrada e da saída.
maio 16 2020
Infinito!
Quero alcançar os sonhos,
ultrapassar limites,
ir ao fim do mundo
Em um mergulhar profundo.
E, se o inatingível me permite,
cruzar a linha do horizonte,
atravessar a ponte
que une o infinito
aonde o sol se esconde.
Quero vestir toda a magia,
fazer estripulia,
abusar da fantasia
e em um voo inusitado
ver versos espelhados
na luz que traz o dia.
Quero, durante o anoitecer,
em nuvem azul-marinho,
poemas em dourado, tecer
e soprá-los de mansinho
feito poeira cósmica
e ver o céu resplandecer.
Quero ser a própria poesia
e toda a alegoria
que validam o viver
e depois dos versos derramados,
entusiasmos explorados,
quero renascer.
maio 16 2020
Vazio!
Bate-me a solidão.
Não sei se vem com o vento,
com o tempo, a contratempo,
ou mora em mim.
Com ela o insano desejo
de tardias realizações
como se ainda fosse tempo
de fantasiar ilusões.
Que desejo permanece
se o ensejo enfraquece
quando se chega ao epílogo
e só cabe o fim?
Desejo feito de vazios,
espaços não preenchidos,
retalhos mal costurados
enquanto o mundo era meu.
Sensação de ter perdido
o que tive em minhas mãos
e nem um sopro de maldade, morreu.
Os melhores momentos
escorridos pelos vãos.
Agora a vida insiste em seguir em frente,
embora o mundo me seja indiferente
ou algum imprevisto venha me surpreender,
cruzar o meu caminho
e um novo sopro, de mansinho,
me chame para viver.
maio 09 2020
Retrato de Mãe!
Diáfana era aquela luz.
Lembrava vida,
que em teu ventre havia.
Mãe, mulher, Maria!
Cristalizaram-se as águas,
Puras, límpidas, pacatas.
De imenso brilho a manhã surgia.
Essência de amor personificada
exalando aroma intenso,
de incenso, de alvorada.
A paz sacramentou o mundo,
momento sagrado, fecundo.
Em uníssonos, sons pianíssimos,
cânticos e hinos, apaziguadores,
vindos do âmago, oravam louvores.
Unificaram-se os matizes,
berços das cores, dos esplendores
e toda beleza resplandeceu o ar,
colorindo todos os cantos de encantos,
nuances suaves a divagar, testemunhar,
invadindo espaços etéreos, surreais.
Encontro inusitado de sentimentos,
unidos pela aura branda do vento.
Os mais nobres e delicados.
Os mais discretos e cordatos.
Os mais sublimes e abençoados.
De auréolas divinas, coroados.
Mãe, ousei descrever o teu retrato.