Pensamento!

O pensamento segue o comando
da mente livre para o guiar.
Livre para voar
e virar:
virar flor,
virar cor,
virar alegria.
Permeia os versos,
vira poesia,
vira pássaro,
alça voo,
vira lenda ou magia,
vira vida,
pula a morte,
vira o que não mais importe,
vira o que queira virar.
Depende da sorte
ou do azar.

Espera!

A poesia espera
a flor nascer no jardim,
o beija-flor voltear
a rosa vestindo carmim,
em um beijo doce selar
o amor que não tem fim.
A poesia espera
o beijo frio da estrela,
o último por do sol,
a próxima lua cheia,
o eclipse total,
a aurora boreal,
e toda a beleza celeste.
A poesia espera
a distância encurtar,
o encontro acontecer,
a aproximação vincular
almas que se buscam,
se amam,
se ofuscam,
andarilhas na multidão
sem ter onde ancorar.
A poesia espera
o momento lento,
o silêncio bento
de palavras caladas
e incalculáveis significados,
instantes eternizados,
sentimentos tantos,
santos,
raridades,
verdades.
A poesia espera
o rio transbordar,
enfim, e alagar toda tristeza
curando desastrosa crueza
a afluir em um mar sem fim.
A poesia espera
o arrojo do arrependimento,
a delicadeza do perdão,
o ápice do arrebatamento
enquanto o poeta dá vazão
a um turbilhão de sentimentos.

Fim de Tarde!

Fim de tarde,
infinitamente tarde!
Que faço do amor
que não se finda
com a tarde?
Como a tarde
dos sonhos que não se acabam,
embrenhados na tarde que se vai,
sem alarde.
Sem piedade,
sem aviso,
ela sai
e a nostalgia que fere,
cai
como fino punhal
trazendo o final.
Por toda parte
o amor invade.
Sem saber que já é tarde,
sem saber o quanto arde,
e quando é infinitamente tarde.
E a tarde finita e fria
se alastra pela noite
sem sonhos,
sem poesia
e acaba vazia.
Pelos cantos o amor se anuncia
pensando que ainda é cedo,
que ainda é dia,
que ainda cabe no curto espaço de tempo,
que cabe à tarde
que se finda,
roubando tanta magia.

Dancemos!

Dancemos.
Esvoaçando no ar,
voando sobre o mar,
girando por todo lugar.
Gravemos no ponto mais alto
nossa história de amor.
Dancemos.
Enfrentando fronteiras
sem luta ou rancor,
levando nossa bandeira
em ritmo de amor.
Que a leveza da dança
desfaça a dureza da dor.
Dancemos.
A dança dos cisnes.
E antes que a água se tisne
e a morte leve um de nós,
que ela nos leve a ambos,
dancemos.
Multipliquemos nossos passos
invadindo espaços
à medida da dimensão de nosso amor
e entre montanhas,
jardins e nuances
demos mais ênfase ao nosso clamor.
Dancemos,
deslizando por rios serenos,
cascatas brancas que entoam a paz,
cantemos a mesma canção
das águas dançantes
em tons bem iguais.
Dancemos
o bailado dos flamingos
em busca da alma gêmea,
santuários e cenários lindos,
incompatíveis à insensibilidade humana,
sublimando nobres sentimentos
antes do acasalamento.
Dancemos.
Cirandas da vida,
retratos de emoções,
ao som de melodias que vêm do coração
ao tecer coreografias plenas de poesias
onde o amor acontece sem nenhuma utopia.
Dancemos.
Deixemos falar a expressão da alma,
mostremos nossa transparência,
curvemo-nos em reverência
ao amor!

Escrevo!

Desfaço pensamentos,
dedilho-os.
Organizo ideias,
medito.
Escrevo sentimentos.
Dou sabor aos sentidos.
Rascunho poemas,
textos,
deslizo palavras.
Descrevo o amor,
a dor,
a alegria,
a tristeza,
a fé,
a esperança.
Abro portas,
escancaro a alma,
deixo janelas entreabertas:
assim o feixe de luz
penetra a vida,
dando sentido ao caminho.
Farol,
candelabro.
Traz o vento levemente.
Brisa que suaviza o ar,
embaralha os cabelos
e toca a face.
Sucumbo desejos,
planto a fé,
sorrisos,
amor!
Intensifico olhares para o mundo,
embalo sonhos,
dou cor ao pensar,
realizo a alma.
Planto ilusões,
Encanto.
Desencanto.
Navego,
passeio,
voo como borboleta.
Sonho!
Sou mar,
intensidade,
infinito,
horizonte.
Sou só,
fiel,
errante palavras
que escrevo!

Erotismo!

Erótica é a urgência da pele.
O sussurrar dos poros,
os sonhos,
e a mistura de duas peles que se buscam.
Erótica é a viagem dos sentidos,
a nova maciez,
o desenho reinventado,
os esboços que se compreendem.
É erótico o sentimento que se desprende
e acorda.
É erótico o deslumbramento do côncavo
que agasalha a tez sedenta.
É a vida que se define em sintonia,
em desejos múltiplos,
justos,
alimentados.
Erótica é a urgência da pele.
As profecias confirmadas,
o beijo que sorve a poesia antiga,
o suor que exala as proibidas confissões,
os tremores permitidos,
os mares de sofreguidão e raridades.
Erótico é o sussurro último
do rubor das duas peles.

(Maria Luiza Faria)

Sonho!

Procura andar onde o coração pede,
onde seu passo insista em estar
para que o sonho deslize
a contento de seu imaginar.
Espera o momento certo,
aquele que avisa
a hora de vestir a fantasia,
o instante da transformação,
da abstração para o concreto,
da mente para a consumação.
Invista no sonho:
é combustível para a vida,
janela para a liberdade,
é estar aqui dentro,
estando lá fora
a buscar entre perdidos e achados,
a verdade.
Então poderá voar
à procura do sonho mais bonito:
aquele que não está escrito
em qualquer página de livro
e, que, de improviso
leva às estrelas.

(In)lucidez!

Prefiro o desequilíbrio lúcido
a revirar sentimentos calados
fazendo barulho para manter-me viva.
A seguir outro compasso
na contradança da vida,
que contraria e impede a valsa.
Prefiro perder-me de vista
e reencontrar-me nova,
onde se entremeia a pista
que, a todo instante, se renova
no salve-se quem puder
e salvarem-se todos,
entre mortos e feridos.
Prefiro atalhos cerzidos,
remendados um a um,
à reconstrução de caminhos
que não levam a caminho algum.
Entrego-me ao inesperado,
ao sonho inusitado,
às contradições do dia,
à luz de cada manhã,
à espera compulsória,
ilusória,
alienada ao mistério não revelado
da incerteza do amanhã.
Prefiro-me a mim,
como sou, assim,
(in)lucidez que vibra
a cada lampejo do sol,
com as miudezas da rua,
com as voltas do girassol,
com a nova fase da lua.

Súplica!

Impede-me!
Tira-me o chão,
o rumo,
a direção.
Corta minhas asas,
impede-me de voar!
Arrebata-me os sonhos,
meu direito de sonhar.
Veda-me os olhos:
“O que os olhos não veem,
o coração não sente.”
Mas pressente!
Lacra-me o sorriso.
Sorrirei com a alma,
com a mente.
Escreve meu destino,
registra-o
em teu pergaminho.
Cerca meus caminhos,
obstrui meu caminhar.
Excita-me a sede,
mostra-me a fonte a jorrar.
Aprisiona meus sentimentos,
em catarse virão me encontrar.
Cala meus pensamentos:
juntos não vão dispersar.
Sequestra minha identidade,
tudo o que há entre mim e mim.
Anuncia meu fim.
Contudo jamais roubarás
o amor que me faz assim.

Versos!

Trago na boca sabor de sol,
calor incessante a aquecer o sonho.
No olhar, a luz jorrada pelo arrebol,
acesa pela esperança de um porvir risonho.
Na garganta, a voz rouca de quem silencia
o brado resguardado a esperar pelo dia
de se fazer ouvir o que a alma fala.
Trago nas mãos a calosidade da lida,
missão por hora cumprida,
o que me reservou a vida,
simples guarida,
acervo de minhas rimas e composições,
palavras recolhidas de minhas emoções
levando-me onde bem quero,
onde almejo e espero
a realização dos sonhos.
Trago na alma a lágrima do inocente
que, ao se calar, consente,
a culpa que jamais foi sua,
julgado a revel,
justiça incomplacente,
verdade inconveniente,
injustiça a prevalecer,
e o culpado jamais castigado.
Minha impotência em só descrever
fragilidades em estrofes e versos
captadas de um mundo adverso
talvez possa ir além de escrever:
um dia toque o ser insensível
e quem sabe fale ao coração de alguém.

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