Perto dos sonhos os pesadelos são mais fortes.
Perto dos fortes os fracos são mais unidos.
Antes da ferida vem o corte.
Para achar-se é preciso estar perdido.
O corte, o sangue, a morte.
O bálsamo, a cura, a vida.
Da vontade ao sonho.
Do sonho ao plano.
Do plano ao ato.
Do ato ao fato.
E o fato?
Engano ou sorte?
Ferida ou morte?
Cura ou corte?
De fato,
o que nos mantém vivos
é a capacidade de recomeçar,
sonhar outra vez,
sangrar e curar
após cada engano,
cada anoitecer.
Apesar da insensatez
ressuscitar.
Vence quem cala
porque o silêncio é bala
não calma.
O silêncio é o barulho da alma.
Ave-santa
Graça!
Não há verso que se faça,
poesia que se cria,
arte que nasça
sem esse grito de dentro,
ecoado e atento
buscando a luz.
Não há poesia feita antes, nem depois.
Poesia é agora, instante.
Não escrevo aos outros,
mas pelos outros.
Através deles
versos se criam no ninho da observação.
Silêncio, mansidão.
Do que há em mim, mas oculta-se
do que sobra.
Se não escrevo aos outros,
escrevo dos outros o que me falta,
o que me salta.
Meu verso é isto: ou é falta ou é sobra.
meramente intenção.
mar 08 2020