Palavras

Para que palavras
faladas ou registradas,
guardadas no pensamento,
se deturpam-lhes o significado,
matam-lhes a essência,
calam-nas na escalada
ensurdecidos ante a carência
de serem bem interpretadas,
se em tempo algum serão escutadas?
Para que palavras
se elas voltam sempre
cabisbaixas,
indiferentes,
ou nunca retornam,
levadas pela contundente ilusão
de uma palavra com lábia
e nem são interpretadas
do jeito que as descrevem o coração?
Para que palavras
se quase todas já foram usadas
em sonhos decadentes,
paixões desenfreadas,
amores já descrentes,
em mundos inconvincentes
e viram estátuas
sem anunciarem o que sentem?
Para que palavras
se quando delas preciso
se ausentam em um espaço conciso
deixando-me só,
eu e eu,
em um cerco onde me confino
com o vazio de se estar só
a confabular comigo mesmo
o desencantamento
de cada palavra que se perdeu?
Para que palavras,
se o silêncio se faz presente,
impetrado em sentimentos?