Senhor, perdoa-me o despautério.
Devolvo-te a inspiração.
Sinto cometer um adultério,
traindo a voz do coração.
Meus versos perderam a alegria,
caminham sisudos pela poesia.
Meus lábios não dizem o que sinto,
contradizem minhas palavras,
meu olhar.
Tento enaltecer o amor
que, de tão raro, se codificou.
Quero descrever o belo
que perdeu o viço
e se esfacelou.
Perdi-me no compasso,
tropecei nas rimas,
fugi de meu estilo
buscando o que me anima
e, a cada passo,
um descompasso me abomina
e o poema segue falso,
sem autoestima.
Por isso, meu Senhor,
me encontro à deriva.
Para que inspiração
se falta emoção?
Para que a poesia
se já não há fantasia?
Não sei se me perdi
ou me perdeu a vida.
out 28 2021